sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Os Azeitonas chegaram ao Terreiro do Paço

À hora em que Os Azeitonas começaram a tocar no Terreiro do
Paço, um Cavaco era perseguido em Paris
pelo fantasma do Sócrates com o livro de Colette
traduzido por Saramago
e dois velhos amigos sentavam-se
a uma longa mesa de madeira lacada a preto
das noites do bar holandês
de Coimbra
e perguntavam-se
se Os Azeitonas chegaram ao Terreiro do Paço
o que vai ser de nós?
Será que o Miguel ainda canta "os aviões"
a capella e há cercas em pedras rubras
como nas tardes em que lá roubávamos
beijos?
E a Nena ainda parte corações
nas manhãs da RTP?
À hora em que Os Azeitonas começaram a tocar no Terreiro do
Paço, o Marcelo executava autópsias
sobre a mesa da Judite
e um ministro observava distraído o dedo dele e as pernas dela
enquanto um fenómeno luminoso ocorria na atmosfera terrestre
ocasionado pelo atrito entre corpos sólidos vindos do espaço
e tu dizias, olha,
uma estrela cadente,
o ministro nada,
o Salsa compunha uma sinfonia
o Marlon tergiversava,
meninos em livrarias chamavam pseudo à Pedreira
e pedreiros sobre mulheres sentiam a jorna
curta.
À hora em que Os Azeitonas começaram a tocar no Terreiro do
Paço, um dizia tenho fé, isto muda,
e sentia o mundo em branco como em dia de eleições,
o Lobo Antunes pensava que se morrer não morre
e lembrava que o Man Ray tinha vergonha
da foto do cadáver do Proust
uma casa de segredos nivelava-se por cima
com o vencedor a enrabar o criador
e um velho a comer uma sopa numa leitaria
da Calçada da Ajuda chorava,
afinal o Rui Veloso nunca vai
gravar um disco só de blues

mas o Porto iluminou-se
com os calos e as vozes das pessoas
e eu acordei com nenhum poema
este discurso de posse
como primeiro ministro, portugueses,
À hora em que Os Azeitonas começam a tocar no Terreiro do
Paço, este é meu projecto para Portugal:
por um lado deixaremos a prostituição
e o comentário político
por outro
mudaremos todos de sexo
e de pensamento
e como os que antes de nós padeceram
de transparência ou invisibilidade
terminaremos aos linguados,
profundos linguados,
a políticos e a políticas,
que então articularão a alma
com uma língua renovada
pornograficamente
a erecção voltará a ser um facto
o jornalismo um meio
as calças terão bolsos e fundilhos
as bocas todas as letras
além do ó,
e quando finalmente as peixeiras se livrarem do medo e da necessidade
de alienação,
a cultura reinará sobre a terra,
e com a culturas as ideias e com as ideias a
poesia,
e com a poesia a poesia e com a poesia a poesia,
À hora em que Os Azeitonas começam a tocar no Terreiro do
Paço, portugueses,
cada um é devolvido a si próprio,
 um Cavaco é perseguido em Paris

pelo fantasma do Sócrates com o livro de Colette
traduzido por Saramago,
que morto é igual a qualquer escritor morto,
mesmo o Lobo Antunes, e
portugueses,
deixará de ser preciso ouvir Pearl
Jam para respirar
se dois velhos amigos se sentarem
a uma longa mesa de madeira lacada a preto
das noites de bares holandeses
e perguntarem
se Os Azeitonas chegaram ao Terreiro do Paço
o que será deles
e o velho que come sopa na leitaria
da Ajuda deixar de chorar
e o Rui Veloso editar
um disco só de blues
e deixar de tocar
para todos nós
o dueto feminino
do Delibes.

PG-M 2013
foto de Vânia Marcos, de worldplusphotos.com

terça-feira, 26 de junho de 2012

A justiça tarda

Mas chega. Anos depois da abertura deste esparso blogue que chegou a ser atribuído a um serviço de fãs, a superlativa "Anda comigo ver os aviões" chega à explosão mediática porque um miúdo a resolveu levar a concurso nas eliminatórias dos "Ídolos". Não importam as vias travessas. Importa que chegou lá e já leva condições para se inscrever no verdadeiro éter. Agora faltam "Os desenhos animados" da nossa Nena, única musa inspiradora de qualquer linha alguma vez aqui escrita. Quando é que um miúdo dos "Ídolos" se testa com os animados ou uma estrela mais ou menos baça os leva à cara que não é estranha? Até lá, fica a nostalgia de uma futura vitória, recordando este pedaço de céu pela enésima vez:

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O (bom) estupor e o raio do DVD (Em boa companhia eu voooooou:)) que num sai

Pr'aí 323 dias depois do último post cá no blogue, mimo os fanáticos como eu e os nosso fãs (os próprios MiguelMarlonSalsaNenaAZs) com uma declaração de estupor (que, caso não saibam, é uma coisa boa):

" pessoal, ando descompensado com esta merda: primeiro, estou hoje certo de que os 39 para 40 graus de febre nessa noite não eram motivo de falta; depois, desde Abril que voltei a toda a discografia das excelências e chateia-me como o caraças achar-vos geniais. Neste momento sinto dores físicas por não ter ido ao concerto e, com o o raio do CD/DVD à vista, mas não na mom (mão, em nortenho), acabei de marcar consulta num psiquiatra. Pergunto às miúdas todas quem são elas, digo-lhes o grau de atarantanço, falo chinês em lojas de indianos, corro, prometo à minha miúda levá-la à América (que ela já não se basta com aquela seca de estar agarrado aos arames de Pedra Rubras), comprei o segundo gnomo e enterrei sob ele a segunda mulher, faço longas chamadas a dizer apenas "tou" e a rolar o solo do Salsa em fundo, grito o Rubi a plenos pulmões e cortejo a Sílvia Alberto, escrevo cartas à minha terceira mulher - que foi para a guerra -, obrigo os funcionários bancários a ouvir e a dançar a Bolsa dos Amores, não consigo subir a Rua de Alegria de carro, mando o barbeiro do Salão América c'um caraças (já não aturo aquela da paraportugalidade), exijo que o Bar Amarelo mude o nome para Café Hollywood e mude a decoração para quadros do Indiana, do Humprhey, da Poppins e do Michael Knight, e no final disto tudo já ninguém me atura. Vá que a minha mãe me senta em frente à televisão e me põe os Desenhos Animados - os da Nena, claro, e eu alcanço algum controlo chuchando o polegar direito. Mas lancem lá isso, carago. Já viram os danos?"

foto: Azeitonas oficial facebook

segunda-feira, 12 de julho de 2010

She's back (Nena)

A Nena, neste lugar, é uma entidade, não uma pessoa. Uma ideia, mais do que uma imagem.
A celebração de uma estética e de uma postura superior, de classe e distância, uma deliciosa experiência do que  pode ser a ilusão da perfeição.

O sorriso sereno que deixamos na cara ao observar uma artista destas é simultaneamente de agradecimento e de reconhecimento. No caso da Nena, que inspira este blogue por ter conseguido, com a sua tenra idade, um lugar de destaque neste grupo de boa gente nortenha, melhor música ainda, o que vemos vai para lá do que está visível. Ao sabermos que Nena se prepara para cantar novas músicas a solo, temos a certeza de um toque de Midas que ninguém pode tirar a esse especialíssimo Desenhos Animados, já tão falado aí em baixo. E a imensa riqueza dos Azeitonas torna-se, pela voz dela, quase luxuriante.
A jovem menina que aparece humildemente como "partenaire" é um pedaço enorme da alma da banda.

Ontem vi "Os Azeitonas" no meio da rua.
Uma rua da minha cidade, a Cândido dos Reis, em plena "movida" tripeira no coração das "Galerias" (revolução cultural que se vai alargando a toda a baixa), que ficou a abarrotar para ouvir, dançar - e acima de tudo curtir - as músicas que nos habituamos a amar por serem feitas deste sotaque largo que é o nosso.

E mais uma vez se percebeu a coragem do grupo, quando mexe no "Miúda" antes que os engula e se chega à frente com coisas novas ou antigas noutra pele.

A Nena tinha voltado ao grupo no dia anterior, 9, em Coimbra, e pisou o palco da nossa cidade no dia 10 de Julho, esse dia do ano que é meu, e que o ano passado, ao perfazer conta certa, foi celebrado precisamente pel' "Os Azeitonas", vindo ver os aviões que eu via.

Um ano depois, recolhido na sombra, como gosto de estar, remataram-me um dia perfeito, na rua, no Porto.
E nas faldas daqueles verdadeiros malucos esteve, finalmente,  a diva destas linhas.

She's back.

Pedro Caius

terça-feira, 13 de abril de 2010

BÉSTE ÓFE: está na altura de um, logo a seguir ao salão

Hoje dei comigo com saudades dos Azeitonas, e deixei rolar na Tânia Filipa (ver abaixo quem é a gaja) o "Desenhos Animados" cantado pela nossa Nena, tendo-me ocorrido: vivemos a moda da nostalgia dos eighties, que constitui um mercado à parte, como se pode ver, por exemplo, na quantidade astronómica de fãs da "Caderneta de Cromos" do Markl e da Rádio Comercial no facebook (mais de 57.000 neste preciso momento), que praticamente só brinca com isso (dos 80s), e uma música como estas tem condições, agora que a popularidade dos moços aumentou exponencialmente, para ter uma vida longa, ser um símbolo, partir corações (dá cabo do meu), andar de boca em boca. Para tal, sugere-se uma remasterização (basta dizer que se fez, não é preciso fazer mesmo) ou a publicação do tal Béste Ófe, que aliás já se impõe, com a definitiva publicação do "Sílvia Alberto" em disco, mesmo que seja virtual, acolhendo algumas das versões de "Ambos os três" (sem esquecer que o "Rubi", o ponto alto do concerto para as meninas e alguns meninos, com o Marlon armado no bonzão que é - pelo menos tem juízo suficiente para ir tomar café à Arcádia da Leitura no Shopping Cidade, a alguns Domingos - :), sem desprimor para as azeitolas que inspiram este blogue.
E hoje, curiosamente, deixei tocar a música azeitola que estava na "posta restante", ou seja, aquela que não tinha sido seleccionada por mim para as minha playlists privadas, e apercebi-me de que há muito pouco que seja  menos do que bom. Ri-me de novo com as "Bifas de Albufeira" e com o "Hooligan do Aleixo" ("ó boi!"), e fiquei siderado com o piano do Salsa em "Tou". Eu sei lá que mais diga. Tenho levado a bandeira a todo o lado, mas já se sabe que, pelo menos para já, o meu caminho é curto. Mas eles merecem mais do que têm tido até agora. Muito mais. E esta não foi a Nena que mandou dizer.

Pedro Caius

PS: Esta foto da Nena é de de Afonso Bastos. Está aqui.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Zamba's planes

Não importa aqui o quanto sei ou deixo de saber de música, porque a humildade socrática que me determina a abordagem ao conhecimento é a mesma que uso quando opino convicto que também os grandes devem saber que nada sabem.
É, aliás, uma consciência de que nunca seria capaz de me guindar ao estado de graça em que vejo os músicos, aquela embriaguez desligada, aquela plenitude de quem vive as coisas de uma forma dolorosa de anti-epicurista, que me faz pensar que, embora tenha alguma formação musical e cante desde pequenino, devo ter a humildade de dizer que não seria capaz de chegar ao ponto em que os vejo, e de me vergar à dedicação e à entrega que eu até conheço e tento praticar noutras áreas em que tenho a ténue esperança de ser alguém.

Ora, toda esta treta para dizer que, apaixonado como sou pela música "Anda comigo ver os aviões", mas muito reservado em relação à versão gravada numa cozinha lisboeta, e que agora viu a luz do dia e está disponível para download, me tinha parecido que havia um problema de velocidade e cadência na abordagem do António Zambujo.

Mas hoje tive uma epifania, correndo na praia, junto ao mar, na pausa do acordeão do Salsa: o problema é que as músicas não servem todas para a mesma coisa em todos os sítios. A versão original do Miguel (que também tem uma excelente interpretação, convém dizê-lo) é suficientemente estável para ser cantada. Mas, no Passos Manuel, o público andou às aranhas atrás do Zamba, e isto porque os aviões do Zamba são uma espécie de Red Bull, pequenas aeronaves acrbáticas sem rota previsível. A versão original trata de aviões comerciais que descolam de Pedras Rubras, e esta claramente de aeronaves que sobrevioam as planícies alentejanas.

E é para ouvir, (só para ouvir meninos!:), não para sing-along.

Este fim-de-semana, zerando os preconceitos, limitei-me a ouvir, sem tentar cantar, e cada vez gosto mais.

Mudei o nome do ficheiro para "Zamba's planes.mp3", e de repente estava algures no meio de capim amarelo, nas redondezas do aeródromo de Beja, porque também os alentejanos podem ir ver os aviões.

Pedro Caius

PS: Isto é essencial que seja dito: O meu filho tem uma bisavó a bater nos 90 que é uma grande senhora, e que ficou encantada com esta música desde o primeiro momento em que a ouviu. Agora pede, amiúde, que eu lha cante.  Há lá coisa mais importante do que isto? São muitas as caras da arte. Esta, a dos Azeitonas, do Miguel em particular, é extraordinária, e ainda tem uma longa história para contar (que está só no início).




domingo, 27 de dezembro de 2009

Problema técnico (de Penhoras e Penhores azeitonettes)


Mandou a Nena voltar hoje à mítica composição "Já não te sinto em mim", que os Azeitonas quiseram como espelho girl's band do "Sinto-te em mim" da boy's band, e que se tem tornado uma fonte de problemas, precisamente por ser, sem querer, uma grande música e não passar despercebida.

Então é assim. A determinado andamento, canta a Bárbara Caius (que não a Diva, Nena):

"(...) Já derreti a minha aliança.
Já penhorei a televisão..."

Ora, o próprio acto malévolo e egoísta de derreter a aliança, desrespeitando a marca no tempo de uma relação, que, ainda que morta, teve momentos de vingança (ou diz-se "teve momento em que vingou"?), nos leva a crer que a rapariga andaria por ourives ou lojas de penhores para rentabilizar o sofrimento.

Teria então de ser:

"Empenhei (e não "penhorei") a televisão."

Ora, mas ocorreu-nos que a pequena e azeda dissidente pudesse ser funcionária judicial ou advogada, e efectivamente colaborar nas, ou realizar as, penhoras.

Se assim é, lamenta-se.

É que teria de haver um conflito de interesses devidamente declarado, ou seja, se a dita namorada amarga que diz ter penhorado o televisor é advogada ou funcionária judicial, nunca deveria ter efectivado uma penhora sobre um bem dela ou do ex-namorado.

Em resumo: lamentável a todos os títulos.
"É por estas e por outras que este país não anda para a frente" (aaargh...eu escrevi mesmo isto?).
"A tipa é uma corrupta!"

O que quase rima com....quem sabe? quem sabe? Pelo menos aplicando o novo acordo ortográfico à moda dos "mails de corrente", que declaram o fim de todas as palavras:
"Assinem abaixo! Corrupta vai virar Corruta!!!"

Daaaah!

Não estão a perceber? E será que é para perceber?

Pedro Caius

Retroversão Azeitonas



Era antevéspera de Natal e chovia copiosamente nas ruas do Porto.

A chuva parou e levantou-se o vendaval, dentro e fora do Passos Manuel.

O que, mais do que surpreender, perturba neste três rapazes que estiveram em cima do palco para o espectáculo intitulado "Ambos os três", é a capacidade de não se deixarem obnubilar pela fama.

Está bem, vão utilizando subrepticiamente todos os mecanismo de marketing existentes no mundo em que nasceram e cresceram.

Mas, neste mundo digital, viraram espantosamente analógicos.

Senão, vejamos:

O Marlon, que podia simplesmente exponenciar uma massa informe de chavalas a endeusá-lo, insiste, no seu ar dread de dandy desconchavado que se esqueceu de botar polainas, e por isso pegou na velha calça com camisa e meia de vidro até ao joelho (que jura ter descoberto recentemente, mas que obviamente faz parte da sua fatitota interior - a de dandy - ), aprendeu a tocar baixo. E tocou. E não tocou mal. E afinal é moço percursionista, e percute bem, ó se percute.

O Miguel, no seu ar dread (sim, eles são todos dreads, cada um na sua frequência:) de levantei-me agora mesmo e tive de vir para aqui porque estava a compor e a dedilhar as minhas guitarras dentro da alma e já nem sei como consigo sair da pele, estou magro e visto as roupas que tenho de vestir, porque eu sou dolorosamente artista e afinal nada me dói) é, todos sabem, um exímio guitarrista que envergonha qualquer virtuoso de letra, mas, acima de tudo, compõe este grupo ímpar, compõe sozinho ou em cima da carne do maior músico dos três, o Salsa.

O Salsa, ó o Salsa, bom o Salsa é sublime nas teclas, ele que não se põe a fazer recitais na Casa da Música, mas podia e sabia, infernal na harmónica (que tem depurado e depurado e depurado, como só os génios), mas não deixa de ser um dread da terra média entre o atinadinho das avenidas e o mozárte de Passos Manuel.

Ambos os três são - e é isso que ressalta da sessão de encerramento de 2009 no Passos Manuel - grandes músicos. E quem tem o atrevimento de se intitular fã deles saiu de lá com esse orgulho.

Deram-nos o o baladeiro galego Roger de Flor de adianto, e, se é certo que a música dos Azeitonas a que ele deu perfume e letra galega é de estouro, perto da excelência, Roger não é Azeitona. É um bom baladeiro, dedilha bem, mas falta-lhe aquele bocadinho assim. O momento em palco com o Marqués da Villa e ambos os três foi muito bom, isso foi, mas só foi.

A Nena, a diva, a voz feminina e doce por excelência, faz falta, sim, mas a intensidade da sua presença em palco poderia ter-nos feito perder a noção do quanto valem, em bruto, estes três rapazes. Queremos Azeitonas eléctricos, sim, mas este era o momento certo para vê-los a nu.

Versões acústicas que se desejam de volta de "Corre", "Salão América", "Café Hollywood" (gostei do novo teledisco no estilo anúncio Super-Bock caseiro, muito caseiro, muito íntimo, e gostei mais ainda da versão acústica) e, grandessíssimos atrevidos, do "Miúda" como nunca a viram, repleto de referências intemporais nas teclas do Salsa.

Eu gostava que o "Anda Comigo Ver os Aviões" com o Zambujo saísse mais coerente em disco. O mal, provavelmente, será meu, que sublimei a música nas gotículas do meu próprio suor tripeiro desde o primeiro segundo, mas sempre disse que esta belíssima balada kitsch era intensamente nortenha. Zambujo tem uma voz belíssima, e talvez valorize a música se cantar à velocidade do Porto, e for capaz de dizer totobola.

A que valorizou, e muito, foi a "Cantigas de Amor", que subiu dez degraus com o toque de Midas do António Zambujo. Uma grande voz.

E numa noite memorável fica também uma surpresa que raramente se tem:

não sei exactamente porquê, mas "Os Azeitonas" têm um público "íntimo" que sabe cantar. Foi quase desarmante ouvir o público cantar, em fundo ou em primeiro plano, com uma estonteante afinação e algumas vezes a duas vozes, como se tivessem ensaiado como coro em classe de conjunto, sem gritar, sem disparatar, sem espingardar.

Levo uns concertos na conta, e nunca tinha visto isto.

Estava lá no arrepiante "Porto Sentido" do "live" do Rui Veloso em 1987, e, se a projecção de um coro de milhares de vozes a sentirem o que cantavam se tornou inesquecível, não me lembro de nada tão subtil como o público desta noite dos AZ's.

Em resumo: se andam distraídos, convinha deixar a lua aqui.

"Os Azeitonas" devem ser vigiados de perto.

Miúdos simples para quem está sempre tudo bem, demasiado bem até (impressiona a descontracção, e eu não lhes posso pedir mais profissionalismo, porque gosto deles assim), perfeitamente desligados até à hora última, mas absolutamente empenhados e concentrados em dar excelência ao que fazem, que não tem igual neste país.

A Retroversão Azeitona de "Ambos os três" é um sinal de coragem e humildade.

Um passo atrás (não em termos de qualidade, mas de registo e sofisticação) para dar dois à frente só pode ser sinal de excelência.

E são amigos do seu amigo, estendem a mão, misturam-se, são pessoas, não estrelas vagas do vácuo.

Caso não saibam, ainda dão toda a música que fazem. Sem pedir nada em troca.

Eu vou ter de dar. Sempre.

Pedro Caius

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Morreu Maria Clara, Viva Maria Clara

Não é só por ser avó de um dos notáveis executantes dos Azeitonas, João Machado Vaz, ou porque o Miguel, no "Projecto Mendes" canta, e bem, a "Costureirinha da Sé". Talvez alguma dia consiga entrar num álbum dos Azeitonas (bem o merecia).
Este blogue está de luto porque Maria Clara, um vulto da cultura portuguesa num significativo pedaço do Séc. XX, foi totalmente ignorada pela voragem mediática. Dirão alguns que "ainda bem", mas não deixa de indignar o peso e a medida.
Morreu na passada Terça-feira e foi a enterrar na Quarta.
Está imortal na voz do "Mendes", aqui mesmo:

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Uma Miúda estranha e Concerto de Lousada anulado em segredo

Manda a Nena dizer (se não fosse ela!), para que os fãs nortenhos não fiquem ao abandono, e dando, pela primeira vez, utilidade a este blogue inútil, que o Concerto marcado para um tal de Arraial de Lousada, que ninguém em Lousada sabe onde fica (provavelmente nunca existiu!) foi anulado à sucapa, não se sabe porquê nem quando, nem consta que os fãs venham a ser compensados deste deserto. Valha-nos a Dra Nena.
Era dia 5 de Setembro de 2009, bem entendido.

Entretanto, um dia destes, na Rádio Nova, passou uma versão do "Miúda" dedicada a todos os enfermos com Gripe A, prolongada e constipada, com mais instrumentos e, claro, sem a Nena.
Os três foram contactados (mentira! não foram nada!) e delclaram nada decalarar.
Deve ser para um maxi-single com três versões, a normal, a anormal e a stripped!

Isto é o que se nos oferece dizer sem qualquer apoio oficial.

Pedro Caius

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Miguel Á Jota no Telerural



O meu querido filho, um dia destes, perguntou-me, na pendência de uma emissão do Telerural (sim, aquele do Quim Roscas e do Zeca Estacionâncio):

- Papá, aquele gajo do telerural não é o Miguel dos Azeitonas?

E eu, desejoso de ser autor de mais uma lenda urbana, respondi:

- É, é, meu filho, e além disso ele também sai penado em noites de lua cheia.

Isto é mesmo verdade, não é só publicidade.

Pedro Caius


quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Onde arrumar os sentimentos (before we turn to stone)



Onde arrumamos os sentimentos, quando de repente nos apercebemos de que gostamos muito mais do que odiamos, ou que por acaso não odiamos nada, só desprezamos algumas coisas e algumas pessoas, desprezamos humildemente, sem desfazer, mas essencialmente levantamo-nos de manhã e, estejam as coisas fáceis ou difíceis, passamos o dia em busca de vida, e quando se procura encontra-se muita, porque ela está aí, está aí todos os dias no vapor da respiração, e mesmo quando nos dão morte, a morte de alguém que nem sequer é nosso, nós encostamos as nossas costas às do desaparecido, estendemos uma passadeira vermelha e durante alguns dias, às vezes muitos dias, percorremos o seu caminho de volta, detalhando momentos, e quando todos detalham momentos mostram aos outros o tanto que lhes escapou, por isso mesmo na morte há vida, mas o problema é se, de repente, nós começamos efectivamente a olhar para todos os que nos rodeiam com olhos de ver, como faríamos nos seus funerais, com vontade de gostar deles, de apreciar o que eles fazem, de validar e testemunhar as suas vidas, o que acontece é que de repente o nosso coração rebenta, porque se estivermos atentos, mesmo muito atentos, até aquela pessoa que nós sempre tivemos como mesquinha e má, mesmo essa pessoa traz vida no rosto, algumas rugas de sofrimento, e como repara que nós a olhamos de frente comete o pecado de sorrir, e depois todos os dias nos sorri, e nós começamos por detestá-la menos e acabamos a gostar, gostar pelo menos um bocadinho, afinal ela é má porque nunca se deteve sendo boa, e se nós abrandarmos em alguém sua maldade, pode dar-se o caso da bondade, não, não é bem a máxima do Luis Cencillo (o filósofo que eu deixei morrer sem prestar respeitos), que dizia que um dos erros da vida era tomarmos à conta de mau o que é sempre bom, mas de vez em quando mau, e à conta de bom o que é sempre mau, mas de vez em quando bom, não é isso, o problema é mesmo onde arrumar este sentimentos, se mesmo o detalhe dos maus e mesquinhos pode mostrá-los bons, o que fazer dos que são mesmo bons, o que fazer da beleza das pessoas na rua, o que fazer do sorriso da empregada na loja, o que fazer da tristeza que conseguimos quebrar atrás de um balcão, há olhos tão tristes que são quase choro, e nós estamos ali perante eles e não os combatemos?, claro que sim, claro que combatemos, e eles sentem-se combatidos e quando chegam a casa para serem injectados de tristeza de novo, sim, porque aquela tristeza não era do trabalho, o trabalho só não ajudava, mas há tristezas tão fundas que vêm já de casa, e ela leva de fora um sorriso e chega a casa e discute ou é desrespeitada ou espancada e fica triste de novo, é preciso voltar no dia seguinte, onde é que arrumamos os sentimentos da rapariga que é tão bonita que temos de lhe agradecer, porque muitas raparigas são bonitas e não se põem assim, ela parou perante si em casa e disse que ia supor que era a mais bela do planeta, supôs isso e saiu tão confiante e produzida que nos iluminou, lá está, o que fazer do prazer e da beleza que nos trazem as mulheres luminosas como a canção, quando passas à minha rua, como um anjo que flutua, os meus pés nunca pisam o chão, por acaso escrevo estas palavras de desespero pelos sentimentos fantásticos que tenho jorrando sem prateleiras onde os pôr, por acaso escrevo ouvindo outra canção, antes de nos transformarmos em pedra, que diz assim, e assim termino, porque afinal não consigo arrumar, ou melhor, eu cá sinto que a forma de os arrumar é sendo feliz e contagiando todos em volta, mas nem sempre eles deixam, há pessoas que adorámos no passado que não nos deixam chegar perto, têm medo de ser vistas no presente, têm medo de gostar de ver, outras que adoramos hoje e se eclipsam, mas temos é de ir caminhando em passos firmes e faremos a estrada, a nossa e a de todos, que as estradas são para todos os que passam, e ficam feitas, diz assim a canção:
vamos lançar um segundo olhar/ para lá do livro de histórias/ e aprender que as nossas almas são tudo o que temos/ antes de nos transformarmos em pedra;
vamos dormir com cabeças mais leves/ e corações demasiado grandes para caber nas nossas camas/ e talvez nos sintamos menos sozinhos/ antes de nos transformarmos em pedra;
E se esperares pela mão de alguém/ certamente cairás;
Sei que não sou nada de novo/ mas há muito mais que podemos fazer/ mas como é que podemos expiar/ antes de nos transformarmos em pedra?;
Sei que se for pelas ruas ser bom ninguém me aceita, chamam-me louco, afectado, poeta, artista, estranho, talvez louco outra vez,
mas eu vou pelas ruas ser bom,
a bondade é lamechas e eu vou levar-lhes a insuportável lamechice da bondade,
foi isso que decidi,
vou pelas ruas ser bom até fenecer.

Pedro Guilherme-Moreira

PS: Músicas referidas no texto: "Quem és tu, miúda?", Azeitonas, e "Turn to stone", Ingrid Michaelson; video refere-se ao momento que esta última musica, episódio 22, temporada 5, Anatomia de Grey;

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Cardinal Trinta e Um Cardinal

A Nena pediu-me para falar das aparências e das essências e da maneira como Os Azeitonas lidam com ambas.
Todos os meios profissionais são propícios a promessas vazias, a sorrisos que depois ficam produtos obsoletos e descontinuados.
Primeiro somos caras, depois vozes ao telefone, depois meros ícones num mensageiro ou rede social.
Muitas vezes os grupos não honram sequer o brilhantismo maior de um Dó menor ou o significante das suas letras.
A Nena diz que Os Azeitonas não.
Com os azeitonas os sorrisos são um contínuo, e eles devolvem a fãs e amigos mais do que lhes é dado. As letras, fazendo parte de um projecto também estético, não contêm mentira, mas autenticidade e ironia.
Ao fim do dia, quando queres ligar-te com mundo mas não queres comprometer-te, usas Cardinal Trinta e Um Cardinal.
Não Os Azeitonas.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Tânia Filipa Já rola mp3 (e os Azeitonas ainda lá estão)

Através de um método engenhoso e quase sádico, ultrapassei o problema das modas. É que as modas estão a descontinuar as Caixas de Cds nos automóveis, e portanto pedem pelo arranjo mais do que custa um auto-rádio.
(Cfr este post noutro blogue, que conta a origem disto que ora escrevo)

O método é sádico porque se aproveita do leitor de cassetes, que está mais morto ainda, para, através de uma cassete "virtual" (que mais não é do que uma tomada), se ligar ao mp3 e dar música para as colunas da carrinha. E que música? "Os Azeitonas", claro, que vieram para ficar.
Mesmo na "renovada" Tânia Filipa, estão com o meu exclusivo vai para duas semanas.

O leitor de cassetes está morto, o leitor de Cds está a morrer, Vivam "Os Azeitonas" ponto mp3!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A perfeição é imprecisa


As mulheres não gostam de ser vistas como gajas, a não ser na cama ou a caminho dela.

O problema delas talvez seja nunca quererem a verdade.
Para os mais exigentes, a celulite é atraente.
Os menos exigentes contentam-se com tudo, mesmo com um manequim ossudo, leve, desumanizado.
O bom gosto vive de pormenores reais, a pelezinha de laranja, o leve buçozito, um pelo ali e aqui, um tropeção num salto.
E qualquer mulher é gaja, boa ou não. Deixemo-nos de mitos.

A mulher real, bonita na sua imperfeição, dá-nos prazer estético.
A mulher irreal dá-nos apenas prazer ético.
O prazer ético de lhe cheirar o perfume e a mandar botar corpo.


Vem tudo isto a propósito daqueles momentos nas músicas das Azeitonettes que nos fazem vibrar, e falamos de novo desse dueto épico, histórico, entre a Nena e a priminha Babi Caius no "Já não te sinto em mim", e da forma como a Babi acaba,

num "niiinguééém" sumido, sumidinho, que vicia.
É humano, vibrante.

A perfeição é imprecisa.

Pedro Caius

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Os três loiras e a Diva


Na "Newsletter" dos Azeitonas de há dois dias, mais coisa menos coisa, que com muito sacrifício e por razões estritamente profissionais recebemos na nossa caixa postal:), vinha escrito o seguinte sacrilégio:

"*surgiu um blog de fãs da Azeitonette Nena, aqui: http://azeitonettes.blogspot.com/"

A nossa redacção tentou contactar o grupo através do endereço oficial, que a Nena garantidamente não lê ou controla, e onde os três loiras, AJ, Marlon e Salsa, recebem uma cópia dos "posts" deste blogue em primeira mão, mas -lo nos prolegómenos da noite de São João (o Gazela esteve fechado, e os três certamente descompensaram:), pelo que tal iniciativa estava necessariamente votada ao insucesso, e agora estão eles com as cabecinhas no Santiago Alquimista, que pisam dia 25, com o AJ a dar um saltinho ao "Ler Devagar" no dia 26.

Claro que aquela classificação redutora tem o dedinho de um dos três loiras, isso é mais do que certo, que nem com a postura notável na vida e na música que sou obrigado a reconhecer (a muito custo), nomeadamente procurando registos e caminhos alternativos rumo ao mainstream, metem naquelas cabecinhas loiras que o blogue "Azeitonettes" nasceu de uma afectada necessidade simbólica e estética, e não para estender passadeiras vermelhas a uma menina bonita (não obviamente bonita) cujo objectivo é, apenas e só, servir-nos de logótipo e ser símbolo das coisas simples e boas da vida (com o devido respeito, que é mesmo muito).

E se os três loiras não percebem porque é que escolhemos a Nena para símbolo e qual o escopo, aqui vai:

- em primeiro lugar, aqui no blogue, eu e o PG-M somos etéreo-sexuais; sendo tal coisa e gostando pouco de cabecinhas ocas e corpinhos baços, preferimos a luta de uma rapariga bonita (não obviamente bonita) que rigorosamente não quer saber de nós (e, mesmo que quisesse, nós é que não queríamos saber disso, porque estragava tudo;);
- em segundo lugar, ela para nós não é de carne e osso, razão primeira para nos devotarmos aqui de forma fundamentalista a uma espécie de profeta da nossa filosofia religiosa, que é tão só

ser boa pessoa.

Sem merdices.

Tal como vocês todos, os três loiras e a Diva.

Pedro Caius

terça-feira, 23 de junho de 2009

O melhor vídeo das nossas vidas

É já oficialmente o melhor vídeo das nossas vidas. Desde os efeitos especiais à colocação da câmara, os grandes planos dos vincos felizes sob os olhos da Nena, o sorriso comprido, quase infindo, a forma como o realizador ignora aquele gesto cénico dela, na altura do "Sem tirar o chapéu de cabói (como ela diz; "foi o que ela disse, ela disse que te mandasse um beijo, foi o que ela disse!" - Jaime, António Pedro Vasconcelos)", em que a Nena alça o bracinho com a mão em cunha sobre a cabeça, fingindo a presença do tal chapéu, a cumplicidade com o Salsa, aquele prolongamento exagerado do "Volta sempre para miiiiiiiiiiiiiiiiiim" que nos dá uma ideia da perfeição imperfeita. Nenhum vídeo da Beyoncé ou mesmo da Madonna ou mesmo do Michael Jackson ou mesmo do Toní da Carreira chega este nível. Fica aqui para sempre, sob o patrocínio da Maria Azeitola, que o colocou no iutúbe.

Pedro Caius

Antes que seja tarde, a Nena

Antes que seja tarde, e por ter estado a testemunhar o verdadeiro amor que a Ana, de Portalegre, dedicou ao grupo quase famoso que se deve endeusar antes do tempo (porque não?), no blogue Maria Azeitola, e porque o Miguel AJ me falou hoje dela (mesmo sem a nomear, nem eu conhecer o projecto, falou mesmo, esta não é brincadeira), parece-me que é hora, por respeito a todos os que têm esta filosofia de vida, passados ou futuros, dizer umas coisas sérias, as únicas que vão ler neste blogue, dure ele o tempo que durar.
Não se trata aqui de homenagear ninguém, mas apenas de partilhar no éter um clima comum que detectamos em quem se faz do nosso barro, tenha a idade que tiver. A Ana de Portalegre chamava-lhes apaixonadamente "os nossos meninos de coração grande", eu chamo-lhes os nossos compinchas tripeiros que levam o sotaque e a forma de ser deste povo do Norte para todo o lado, para que o Porto veja a sua transcendência inscrita nas estrelas acima dos balões de São João que amanhã mesmo voltarão aos céus. O seu código genético é de tal forma gritante que eu o detectei antes mesmo de saber que o passado deles foi riscado com Kalkitos do meu, ou seja, somos gajos do Porto, do Rui, dos Trabalhadores, do Coliseu, do Passos Manuel, da Rua da Alegria, da Formosa, dos Lóios. (Apetece calar-me e deixar aqui o link do Porto do PG-M, que já disse tudo por mim aqui:).

A Nena. A Nena não conheço, posso dizê-lo ainda hoje, e espero que por pouco tempo.
Mas a Nena está longe da vista. Perto do coração. É pura estética, mas também a suspeita do que dela todos me disseram sempre: uma doce e incomensurável pessoa, e além disso uma rapariga bonita mas não evidentemente bonita, que se presta ao simbolismo estético das mulheres que nos iluminam os passeios.

Estive a reparar hoje nalgumas poses dela, e parece-me evidente que supera largamente a banalidade de um corpo frívolo em cabeça leve, para ser o sal de um grupo superlativo de músicos que, por si só, não descolariam da imagem dos pândegos da Rua da Alegria.

A Nena faz deles outra coisa, e é nessa essência e nesse registo que continuaremos o apelo estético de escrever com humor rasgadinho este blogue ululante de cultura mainstream.
A Nena é a nossa Sílvia Alberto.

Vejo também nela os abismos mais açucarados da vida, ou seja, o tempo em que podia e devia ter partilhado do que é tão meu, tão idêntico, tão comum, as noites da Nena, da minha prima Babi e do Miguel no Pop, e afinal andava por outros campos de batalha, e perdi de vista coisas que podem ser quase tudo para nós. Andei tão perto, tão perto, e afinal tão longe.
Como todos em tantos momentos da sua vida.
Às vezes, lágrimas. Coisas de raiva, boa raiva.

Não mais.
Neste ano 40, tenho aprendido que não se poupam palavras, que não se lamenta a falta de tempo para nada, nem que se tenha de perder o sono (como eu neste momento), ou ritmos alucinantes, para dizer às pessoas de forma serena, sem ânsia, sem compulsões, e com aquele talhe trabalhado de frases sem demagogia ou lamechice ou banalidade,

que gostamos delas,
e quanto.

Pedro Caius

Pungente (ainda O javiões)

A Nena, efectivamente, já tinha pressionado a direcção deste blogue, que sendo dedicado à "musa necessária", se faz "necessariamente" em contraponto com os "musos" desnecessários (para não dizer "gajos") da Oliveira que gerou este grupo, mas era necessário encetar uma investigação no sentido de apurar se o Miguel AJ ou o Mendes efectivamente começavam a versão "Azeitona" de "Anda Comigo ver os Aviões" da seguinte forma:

- Anda comigo ver o javiões.

Repetimos: Javiões.

Compulsados o concerto do Mendes e o blogue do dito, entre outros registos sonoros do tempo do Estado Novo, nota-se que o impulso sanjoanense se reduz à versão do "Salão América".

A ideia era ridicularizar o dito, mas por esta altura já se perdeu o gás todo, porque a música está a passar no ouvido, e é demasiado boa, embora lamentavelmente sem nenas.

E quando o jovem diz "que eu morra aqui", despedaça.

O bendito!

Fica a para a próxima!

Pedro Caius

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Nena andou vendo os aviões

Já é mais ou menos conhecida a fixação do Mendes em comparar o estilo literário do seu "Reader's Digest" (que, a propósito, me apanhou o endereço de mail, e agora nunca mais vai largar...sssss!...) à também sua belíssima canção "Vien avec moi regarder les avions", ou, em português, usando o Google Tradutor, que está longe de ser tripeiro, "Venha comigo para ver os aviões" (qualquer pessoa normal diria "Anda comigo ver os aviões") - tenho de apressar este post, porque a mulher chamou para jantar (não haja enganos, eu também o faço de vez em quando, e não só de churrasco no quintal com avental e pose de macho latino) - , bom, adiante, ia dizendo, é conhecida a fixação do Mendes por essa comparação literária, mas a música dos aviões é do mais violentamente romântico que se tem feito, precisamente porque, e já outros o disseram noutros lados, o amor como merdice vende muito mas é estupidificante, mas o amor autêntico, o real, é baço, cruelmente vulgar, simples, rotineiro, mas dota as suas vítimas de felicidade.

Vai daí há que dizer que a "musa necessária" deste blogue andou vendo os aviões num dia que integrava o pico de Agosto, enquanto todos os outros estavam na praia, provavelmente com um dos seus primeiros namorados, de mão dada junto à rede de Pedras Rubras antes de ser um dos melhores aeroportos da Europa, e que o Porto de Leixões faz parte da matéria de qualquer tripeiro, tenha ou não sido arrastado para o Senhor de Matosinhos, principalmente desta geração, que tem filhos lindos a nascer no Pedro Hispano, nem que tenha sido pelos momentos breves em que aguardou na fila olhando o rendilhado de contentores e o movimento delicado da ponte móvel.

Qualquer fã obcecado dos Azeitonas sonha estar de mão dada com uma Azeitonette teórica (a Nena não, a Nena não!) num por do sol alaranjadó-salmão, em plena auto-estrada (em contravenção) vendo a saída de um cargueiro rumo à Galiza.

Por isso é que a Nena andou vendo os aviões, asseguro-vos, pelo menos entre o Inverno do ano em que Glenn Frey dos Eagles gravou a solo a "Sexy Girl" e o presente.

Por isso é que foi.

Pedro Caius

O Eu e o Tu: Letra escondida da canção escondida

É fundamental que haja rigor nas mais pequenas coisa. Assim, eu, Pedro Caius, e o PG-M, reunimos esforços no sentido de, no último ano, trabalhando duas horas por dia, em conjunto, todas as noites, transcrevermos a letra escondida da canção escondida do álbum "Um tanto ou quanto Atarantado", a conhecida melodia dos anais (salvo seja), "Já não te sinto em mim", cantada em dueto pela prima Babi e pela Nena, e que vai de minutos 4.30 a minutos 5.01, tendo a transcrição ficado assim (assegura-se êxtase absoluto, devido à linguagem críptico-erótica das meninas, baseada não no egocêntrico "Eu", mas no alter "Tu". Profundíssimo. Ora vejam):

Babi (B): Tu ru tu tu ru
Nena (N): Tu ru tu tu ruuuuuu
B: Tu ru tu tu ruuuuu
N: Tu ru tu tu ruuuuu
B: Tu ru tu tu iá
N: Tu ru tu téiá
B: Tu ru tu téiá
N: Tu ru tu téiá
B: Tu
N:Tu
B: Tiu
N: Tu
B: Tu tu tu ru tu téiá
N: ááááááááááááá´

Ligações pertinentes para este tema do "Tu" (tu ru tu tu):

Pedro Caius
PS: Eu juro que só faço isto quando há perigo de a normalidade chata me pôr louco:)

Nena hoje vista na minha rua

Nena foi avistada hoje por alguns populares flutuando, enquanto passava à minha rua.

Mandei logo desentranhar.
As ideias daquelas cabeças, digo.

Normalmente, tenho esse efeito sobre os populares.
Eu passo, e não flutuo nada, acreditem, tenho mesmo dificuldades especiais "derivado" ao meu peso e altura, e os populares que se perfilam à porta do café mandam as suas bocas, normalmente fazendo-me pagar por tudo o que vai mal no país (é normalmente a sina dos licenciados - os dótores - e a cruz dos advogados), mas como eu gosto que me interpelem, e gosto especialmente de contrariar a demagogia do tremoço e do amendoim, mesmo não sendo especialmente eloquente, consigo sempre que eles acabem a abanar a cabeça para cima e para baixo alternando "sim, sim" com "claro, claro".

Sempre é alguma coisa, porque normalmente exibem-se a todoa a extensão do seu bocado de rua, gritando aos passantes (venham a pé, de carro ou de motorizada), "F...-se nino, vai cum c...!" (ouço isto mais ou menos vinte vezes por dia, e esta frase é o equivalente ao mainstream "não me digas");

Quem me conhece sabe que verbero a perfídia da rua, tanto como a canalhice de gabinete.
Vai daí convenci-os de que não tinham visto ninguém.

Verdade seja dita, sei bem que o resultado disto é, apenas e só, a conclusão esotérica:

"Para mim, anda com a gaja."

Pobres populares:).

Pedro Caius

Temos coisas da Nena para a troca

Neste momento o nosso arquivo possui um abundante repositório de objectos relacionados com a Azeitonette Nena, a saber (inventário apenas dos principais, por favor contactem-nos para mais detalhes):

- gravillha que ela terá feito rolar à sua passagem pelo Café Astronauta, enquanto esperava que a não reconhecessem à entrada do concerto do Mendes,

- golfadas de ar que libertou depois de uma gargalhada transacta enquanto inspeccionava a montra da Papélia;

- a conta que ela e os amigos pagaram na Casa Nanda há três anos atrás, oferta que eu faço questão de cobrir;

- Transcrição da conversa que a priminha Babi e ela têm sob piano, no início do dueto anti-pimba "Já não te sinto em mim", que serve de contraponto ao "Sinto-te em mim", e que aproveitamos para oferecer à comunidade, e que reza assim (acho eu):

"Não penses que isto vai sair à primeira, sabes?"

Pedro Caius

domingo, 21 de junho de 2009

Mas afinal porquê um blogue sobre o elemento feminino d'"Os Azeitonas"?

Porque sim.

Existe uma cultura da irresponsabilidade no que toca a apoiar um grupo musical. As pessoas não são suficientemente obcecadas, e o grupo, ao fazer-se fruto proibido, nem sempre se torna desejado. Se houvesse suficientes obcecados pel'"Os Azeitonas", não era impossível que os homens gritassem.

Nós sabemos, neste blogue, que "Os Azeitonas" estão a passar uma excelente fase de descontrolo hormonal, como todos os pré-púberes, com acne a invadir-lhes a face.

E agora não posso mais, porque é tarde e estou cheio de sono, e esta vida são dois dias e uma noite.

Essa noite é-me devida.

Pedro Caius