segunda-feira, 12 de julho de 2010

She's back (Nena)

A Nena, neste lugar, é uma entidade, não uma pessoa. Uma ideia, mais do que uma imagem.
A celebração de uma estética e de uma postura superior, de classe e distância, uma deliciosa experiência do que  pode ser a ilusão da perfeição.

O sorriso sereno que deixamos na cara ao observar uma artista destas é simultaneamente de agradecimento e de reconhecimento. No caso da Nena, que inspira este blogue por ter conseguido, com a sua tenra idade, um lugar de destaque neste grupo de boa gente nortenha, melhor música ainda, o que vemos vai para lá do que está visível. Ao sabermos que Nena se prepara para cantar novas músicas a solo, temos a certeza de um toque de Midas que ninguém pode tirar a esse especialíssimo Desenhos Animados, já tão falado aí em baixo. E a imensa riqueza dos Azeitonas torna-se, pela voz dela, quase luxuriante.
A jovem menina que aparece humildemente como "partenaire" é um pedaço enorme da alma da banda.

Ontem vi "Os Azeitonas" no meio da rua.
Uma rua da minha cidade, a Cândido dos Reis, em plena "movida" tripeira no coração das "Galerias" (revolução cultural que se vai alargando a toda a baixa), que ficou a abarrotar para ouvir, dançar - e acima de tudo curtir - as músicas que nos habituamos a amar por serem feitas deste sotaque largo que é o nosso.

E mais uma vez se percebeu a coragem do grupo, quando mexe no "Miúda" antes que os engula e se chega à frente com coisas novas ou antigas noutra pele.

A Nena tinha voltado ao grupo no dia anterior, 9, em Coimbra, e pisou o palco da nossa cidade no dia 10 de Julho, esse dia do ano que é meu, e que o ano passado, ao perfazer conta certa, foi celebrado precisamente pel' "Os Azeitonas", vindo ver os aviões que eu via.

Um ano depois, recolhido na sombra, como gosto de estar, remataram-me um dia perfeito, na rua, no Porto.
E nas faldas daqueles verdadeiros malucos esteve, finalmente,  a diva destas linhas.

She's back.

Pedro Caius

terça-feira, 13 de abril de 2010

BÉSTE ÓFE: está na altura de um, logo a seguir ao salão

Hoje dei comigo com saudades dos Azeitonas, e deixei rolar na Tânia Filipa (ver abaixo quem é a gaja) o "Desenhos Animados" cantado pela nossa Nena, tendo-me ocorrido: vivemos a moda da nostalgia dos eighties, que constitui um mercado à parte, como se pode ver, por exemplo, na quantidade astronómica de fãs da "Caderneta de Cromos" do Markl e da Rádio Comercial no facebook (mais de 57.000 neste preciso momento), que praticamente só brinca com isso (dos 80s), e uma música como estas tem condições, agora que a popularidade dos moços aumentou exponencialmente, para ter uma vida longa, ser um símbolo, partir corações (dá cabo do meu), andar de boca em boca. Para tal, sugere-se uma remasterização (basta dizer que se fez, não é preciso fazer mesmo) ou a publicação do tal Béste Ófe, que aliás já se impõe, com a definitiva publicação do "Sílvia Alberto" em disco, mesmo que seja virtual, acolhendo algumas das versões de "Ambos os três" (sem esquecer que o "Rubi", o ponto alto do concerto para as meninas e alguns meninos, com o Marlon armado no bonzão que é - pelo menos tem juízo suficiente para ir tomar café à Arcádia da Leitura no Shopping Cidade, a alguns Domingos - :), sem desprimor para as azeitolas que inspiram este blogue.
E hoje, curiosamente, deixei tocar a música azeitola que estava na "posta restante", ou seja, aquela que não tinha sido seleccionada por mim para as minha playlists privadas, e apercebi-me de que há muito pouco que seja  menos do que bom. Ri-me de novo com as "Bifas de Albufeira" e com o "Hooligan do Aleixo" ("ó boi!"), e fiquei siderado com o piano do Salsa em "Tou". Eu sei lá que mais diga. Tenho levado a bandeira a todo o lado, mas já se sabe que, pelo menos para já, o meu caminho é curto. Mas eles merecem mais do que têm tido até agora. Muito mais. E esta não foi a Nena que mandou dizer.

Pedro Caius

PS: Esta foto da Nena é de de Afonso Bastos. Está aqui.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Zamba's planes

Não importa aqui o quanto sei ou deixo de saber de música, porque a humildade socrática que me determina a abordagem ao conhecimento é a mesma que uso quando opino convicto que também os grandes devem saber que nada sabem.
É, aliás, uma consciência de que nunca seria capaz de me guindar ao estado de graça em que vejo os músicos, aquela embriaguez desligada, aquela plenitude de quem vive as coisas de uma forma dolorosa de anti-epicurista, que me faz pensar que, embora tenha alguma formação musical e cante desde pequenino, devo ter a humildade de dizer que não seria capaz de chegar ao ponto em que os vejo, e de me vergar à dedicação e à entrega que eu até conheço e tento praticar noutras áreas em que tenho a ténue esperança de ser alguém.

Ora, toda esta treta para dizer que, apaixonado como sou pela música "Anda comigo ver os aviões", mas muito reservado em relação à versão gravada numa cozinha lisboeta, e que agora viu a luz do dia e está disponível para download, me tinha parecido que havia um problema de velocidade e cadência na abordagem do António Zambujo.

Mas hoje tive uma epifania, correndo na praia, junto ao mar, na pausa do acordeão do Salsa: o problema é que as músicas não servem todas para a mesma coisa em todos os sítios. A versão original do Miguel (que também tem uma excelente interpretação, convém dizê-lo) é suficientemente estável para ser cantada. Mas, no Passos Manuel, o público andou às aranhas atrás do Zamba, e isto porque os aviões do Zamba são uma espécie de Red Bull, pequenas aeronaves acrbáticas sem rota previsível. A versão original trata de aviões comerciais que descolam de Pedras Rubras, e esta claramente de aeronaves que sobrevioam as planícies alentejanas.

E é para ouvir, (só para ouvir meninos!:), não para sing-along.

Este fim-de-semana, zerando os preconceitos, limitei-me a ouvir, sem tentar cantar, e cada vez gosto mais.

Mudei o nome do ficheiro para "Zamba's planes.mp3", e de repente estava algures no meio de capim amarelo, nas redondezas do aeródromo de Beja, porque também os alentejanos podem ir ver os aviões.

Pedro Caius

PS: Isto é essencial que seja dito: O meu filho tem uma bisavó a bater nos 90 que é uma grande senhora, e que ficou encantada com esta música desde o primeiro momento em que a ouviu. Agora pede, amiúde, que eu lha cante.  Há lá coisa mais importante do que isto? São muitas as caras da arte. Esta, a dos Azeitonas, do Miguel em particular, é extraordinária, e ainda tem uma longa história para contar (que está só no início).