terça-feira, 23 de junho de 2009

Antes que seja tarde, a Nena

Antes que seja tarde, e por ter estado a testemunhar o verdadeiro amor que a Ana, de Portalegre, dedicou ao grupo quase famoso que se deve endeusar antes do tempo (porque não?), no blogue Maria Azeitola, e porque o Miguel AJ me falou hoje dela (mesmo sem a nomear, nem eu conhecer o projecto, falou mesmo, esta não é brincadeira), parece-me que é hora, por respeito a todos os que têm esta filosofia de vida, passados ou futuros, dizer umas coisas sérias, as únicas que vão ler neste blogue, dure ele o tempo que durar.
Não se trata aqui de homenagear ninguém, mas apenas de partilhar no éter um clima comum que detectamos em quem se faz do nosso barro, tenha a idade que tiver. A Ana de Portalegre chamava-lhes apaixonadamente "os nossos meninos de coração grande", eu chamo-lhes os nossos compinchas tripeiros que levam o sotaque e a forma de ser deste povo do Norte para todo o lado, para que o Porto veja a sua transcendência inscrita nas estrelas acima dos balões de São João que amanhã mesmo voltarão aos céus. O seu código genético é de tal forma gritante que eu o detectei antes mesmo de saber que o passado deles foi riscado com Kalkitos do meu, ou seja, somos gajos do Porto, do Rui, dos Trabalhadores, do Coliseu, do Passos Manuel, da Rua da Alegria, da Formosa, dos Lóios. (Apetece calar-me e deixar aqui o link do Porto do PG-M, que já disse tudo por mim aqui:).

A Nena. A Nena não conheço, posso dizê-lo ainda hoje, e espero que por pouco tempo.
Mas a Nena está longe da vista. Perto do coração. É pura estética, mas também a suspeita do que dela todos me disseram sempre: uma doce e incomensurável pessoa, e além disso uma rapariga bonita mas não evidentemente bonita, que se presta ao simbolismo estético das mulheres que nos iluminam os passeios.

Estive a reparar hoje nalgumas poses dela, e parece-me evidente que supera largamente a banalidade de um corpo frívolo em cabeça leve, para ser o sal de um grupo superlativo de músicos que, por si só, não descolariam da imagem dos pândegos da Rua da Alegria.

A Nena faz deles outra coisa, e é nessa essência e nesse registo que continuaremos o apelo estético de escrever com humor rasgadinho este blogue ululante de cultura mainstream.
A Nena é a nossa Sílvia Alberto.

Vejo também nela os abismos mais açucarados da vida, ou seja, o tempo em que podia e devia ter partilhado do que é tão meu, tão idêntico, tão comum, as noites da Nena, da minha prima Babi e do Miguel no Pop, e afinal andava por outros campos de batalha, e perdi de vista coisas que podem ser quase tudo para nós. Andei tão perto, tão perto, e afinal tão longe.
Como todos em tantos momentos da sua vida.
Às vezes, lágrimas. Coisas de raiva, boa raiva.

Não mais.
Neste ano 40, tenho aprendido que não se poupam palavras, que não se lamenta a falta de tempo para nada, nem que se tenha de perder o sono (como eu neste momento), ou ritmos alucinantes, para dizer às pessoas de forma serena, sem ânsia, sem compulsões, e com aquele talhe trabalhado de frases sem demagogia ou lamechice ou banalidade,

que gostamos delas,
e quanto.

Pedro Caius

Sem comentários:

Enviar um comentário